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O grande desafio de fazer vinho pela primeira vez
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O vinho à mesa aristocrática do Dão
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O grande desafio de fazer vinho pela primeira vez

 
Quando se pergunta a uma pessoa do século XXI quais as três condições necessárias e suficientes para que se possa fazer vinho certamente que achará fácil a pergunta e enuncia de imediato a primeira das condições: uvas! É certo que se pode fazer vinho com outros frutos, mas com as uvas faz-se o melhor, mais graduado e mais reconhecido de todos os vinhos. As restantes duas condições obrigam a pensar muito mais e ao fim de aturada reflexão talvez consiga identificar a segunda: um recipiente!
 
Recipiente para vinho encontrado em Hajji Firuz, Irão. C. 5000 a. C.
 
 
Só quando se recua ao tempo dos caçadores recoletores é que se torna óbvia a necessidade de um recipiente com alguma resistência mecânica, que só surgiu com a invenção da olaria – a primeira das indústrias. A terceira condição é ainda mais difícil de identificar e raramente é reconhecida. Porém, é muito fácil de entender quando nos ocorre que a Natureza também “faz” vinho, mas acaba, inevitavelmente, em vinagre. De facto, quando as uvas maduras são afetadas por uma forte chuvada, rompem a película e caem ao chão, rapidamente cheiram a vinho, fruto da fermentação espontânea que ocorre nos bagos.
 
Mapa histórico da origem do vinho
 
 
Todavia, o processo não acaba aí, pois em breve os bagos começam a cheirar a vinagre, fruto da passagem do álcool formado a ácido acético. Só então se faz luz e se percebe que a terceira condição é: a inteligência humana! Certamente que foram necessárias inúmeras tentativas e erros até que o homem antigo entendesse como evitar a passagem do vinho a vinagre. Isso só aconteceu quando compreendeu que era preciso proteger o vinho do contato com o ar ou quando o fez com as uvas parcialmente desidratadas ao sol (passas) para ficarem muito doces. Fica claro, então, que a produção de vinho só é possível quando estas três condições ocorrem simultaneamente. Segundo o conhecimento atual admite-se que tal aconteceu há cerca de 8 000 anos no Cáucaso, na região que é hoje a Geórgia e a Arménia, dando início à fascinante aventura da mais venerada e mágica de todas as bebidas.
 
Adega descoberta na Arménia em 2011
 
 
A compreensão do processo de produção de vinho só começou a ser desvendada na segunda metade do século XIX, quando foram descobertos os microrganismos – leveduras – que transformam o açúcar da uva em álcool. Mais tarde, descobriu-se que o vinho passava a vinagre por ação das bactérias acéticas, na presença de ar, e que estas cessavam a sua atividade quando o vinho tinha acima de 14 graus de álcool. Ainda mais tarde descobriu-se que, na ausência de ar, algumas bactérias láticas transformavam o ácido málico das uvas em ácido lático, com produção de gás carbónico, tornando a maioria dos vinhos tintos mais macios e com melhor poder de conservação.
 
A levedura Saccharomyces cerevisiae em microscopia eletrónica de varrimento
 
No final do século XX foram identificadas leveduras responsáveis por conferirem maus aromas e sabores aos vinhos, particularmente tintos. Já no século XXI continua a investigação para tentar descobrir todos os microorganismos que interferem na qualidade do vinho. Esta bebida fascinante ainda tem muitos segredos por desvendar!
 
Bactérias da transformação malolática retidas num filtro de membrana

Antes do vinho
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