O Dão sempre foi famoso pelas suas casas solarengas de jardins aprazíveis, matas com grandes árvores exóticas e extensas quintas. Nestas praticava-se geralmente uma agricultura cuidada, onde as adegas monumentais testemunhavam a importância dada à produção de vinho desde a Idade Média e particularmente a partir do século XVIII. No entanto, sempre se soube pouco sobre o que se passava para lá das grossas paredes dos solares, dada a discrição com que os proprietários sempre preservaram a sua intimidade.
Os raríssimos estudos sobre o tema permitem afirmar que tanto as alfaias usadas no serviço de vinhos como os rituais do consumo eram sumptuosos, principalmente em dias festivos ou de convidados importantes.
Antes do século XVIII os banquetes, conduzidos por regras de etiqueta rígidas, seguiam o serviço à francesa onde as inúmeras iguarias consumidas eram todas postas em cima da mesa por fases, designadas “cobertas”.
No entanto, os vinhos e os copos não eram colocados na mesa,fazendo-se o serviço por copeiros, em regra vestidos a rigor e cumprindo um ritual próprio, sempre que os comensais faziam menção de querer beber. As peças dessa época são raríssimas, admitindo-se que dominavam as feitas em prata ou estanho, tanto para beber como para servir o vinho. Também era vulgar o mesmo copo, ou caneca, ser utilizado por vários comensais, razão por que era de etiqueta consumir o vinho de um trago, para que não ficassem restos para o comensal seguinte.
A partir do final do século XVIII começou a utilizar-se o serviço à russa, após este ser adotado pelos banquetes reais, onde as iguarias eram servidas uma a uma e os copos já estavam em cima da mesa, em frente de cada conviva.
Os serviços de copos, frequentemente importados de Itália, França, ou até Alemanha e Inglaterra, eram luxuosos, com cinco copos diferentes para cada tipo de vinho ou licor. Os vinhos, da região e de fora, eram cuidadosamente preparados antes de serem servidos, sendo filtrados, refrescados, “chambreados” e decantados com alfaias especialmente concebidas para o efeito, muitas delas de rara beleza e verdadeiras obras-primas.
O vinho assumia grande protagonismo à mesa aristocrática da Região e o ritual do seu serviço e consumo nada ficava a dever ao cuidado com que é feito no século XXI.