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Touriga Nacional, uma obra-prima da viticultura portuguesa

 

Tourigo é uma minúscula aldeia do Vale de Besteiros, junto ao rio Criz, no meio de uma beleza de cortar a respiração. É, também, o nome com que os viticultores do Dão apelidaram, há séculos, a casta tinta que anda na boca do mundo: a Touriga Nacional. Poderá parecer acaso, mas se tivermos em conta que o Tourigo também era conhecido, no passado, por Mortágua, vila a poucos quilómetros da aldeia referida, então passará a ser coincidência a mais. Este argumento toponímico, associado a dados científicos, mormente de genética das populações, e testemunhos históricos idóneos, como o de António Augusto de Aguiar, em 1867, onde reconhece a presença maciça do “Tourigo” no encepamento regional, são provas de sobra para os beirões reivindicarem para o seu Dão o berço da ilustre Touriga Nacional. Os méritos enológicos já eram louvados no período pré-filoxérico pelos vinhos muito “cobertos de cor” e de aroma distinto que originava. Porém, no período pós-filoxérico a sua fama empalideceu, apontando-se-lhe a tendência para produzir muita parra e pouca uva.

 

Só nas últimas décadas se percebeu que o defeito não era da casta, mas dos “cavalos” americanos em que era enxertada para resistir ao maligno inseto, que induziam ao grande vigor vegetativo, facilitando o desavinho. Até se resolver o problema do desavinho o príncipe dos enólogos do Dão – Cardoso Vilhena – decifrou parte do enigma, explorou as potencialidades da casta e fez, como era seu lema, vinhos lendários no “Centro de Estudos”, como os de 1963, 1970, 1975, 1980, 1983… recuperando e engrandecendo o estatuto perdido. Na década de 1990, com o movimento das “Quintas do Dão”, a Touriga Nacional ganhou novo fôlego e os seus vinhos começaram a ser falados aquém e além-fronteiras, marcando os destinos da casta, recrudescendo a sua migração para todas as regiões vitícolas portuguesas e iniciando uma aventura por terras de Espanha, Estados Unidos (onde já existia para fazer vinhos fortificados), Austrália, Argentina e, até, França, onde recentemente foi inscrita na lista oficial de castas. Em todas estas paragens a Touriga Nacional espalhou o seu encanto, dando origem a vinhos de excelência e de estilos muito variados. A sua versatilidade enológica permite obter vinhos de perfume intenso, grande elegância de sabor e sofisticação no envelhecimento em regiões frescas e vinhos potentes, concentrados em cor e sabor em regiões quentes.